segunda-feira, 16 de abril de 2012
A criação com apego e a neurociência
O que determina as características de personalidade de uma pessoa e, consequentemente, de um grupo social? O que determina que uma pessoa se torne deprimida, ansiosa, paranóica ou que desenvolva outro transtorno emocional? A constituição genética? O ambiente? As vivências ao longo da vida? O suporte emocional que recebe? O grau de afeto recebido na infância? Coisas que ainda não sabemos e que a ciência ainda não explica? Sim, tudo isso.Qual desses fatores tem maior ou menor peso nessa misteriosa e inexata matemática? Taí uma pergunta para a qual não se tem uma clara resposta.Como saber, então, de onde vêm essas mazelas? Não sabemos ao certo, de forma que não podemos controlá-las. Mas se sabemos que determinadas práticas, situações e experiências contribuem decisivamente para que elas não apareçam, então passamos a nos apoderar desse conhecimento na tentativa de evitar o sofrimento. Não é garantia de que iremos conseguir, mas estaremos assumindo a parte que nos cabe nesse vasto e complexo latifúndio.Não temos como controlar quais genes vamos passar - ou já passamos - para nossos filhos. Não sabemos, em termos de constituição biológica, quem são ou o que há dentro deles, qual o gatilho que está pronto para ser acionado - de bom ou de nem tão bom assim.Mas podemos, pelo menos em parte, no dia-a-dia, dentro de casa, nas experiências cotidianas da família, selecionar ambientes e experiências aos quais queremos expô-los ou não. Aí entra a criação com apego, tradução pouco precisa para o termo em inglêsattachment parenting. E que vem recebendo críticas descabidas de gente que não faz a menor ideia do que está falando. Num mundo onde o apego emocional vem sendo ridicularizado na mesma intensidade que se incentiva e se fortalece o apego material, ainda em tenra infância. Virou piada você dizer que amamenta um filho de mais de dois anos, ou que procura compreender seus anseios e inseguranças no lugar de agir autoritariamente, ou que evita deixá-lo chorar. Pessoas presas aos seus próprios preconceitos e ligadas ao que o senso comum propaga como sendo verdades inquestionáveis, ainda que fruto da ignorância, tendem a associar a criação com apego à falta de limites, à permissividade, construindo em suas cabeças um falso perfil dos pais que assim criam seus filhos como sendo seres irresponsáveis, criando filhos sem limites. Como se a oferta desmedida de apego e amor fosse contribuir para pessoas naturalmente sem respeito pelo espaço alheio, físico e emocional, numa clara e clássica inversão pós-moderna de valores, marcada pela predominância do automático sobre o intuitivo, do mecânico sobre o emocional, do artificial sobre o natural. Quando o que se vê na realidade é claramente o oposto: jovens sem limites justamente por não terem recebido nenhum grau de atenção em casa, que não tiveram a presença carinhosa dos pais, ou que foram vítimas de maus tratos emocionais ou físicos. Criação com apego não tem nada de permissividade ou de liberou geral. Muito pelo contrário: busca-se ensinar e mostrar os próprios limites e seus limites no mundo. Mas os ensinamentos e orientações são passados com base em conceitos de amor, compreensão e respeito. Não na base da força e do autoritarismo do mais forte para com o mais fraco.O termo attachment parenting foi utilizado pela primeira vez por um médico, William Sears, com base na teoria do apego, que leva em consideração o fato de que a criança, durante sua infância, tende a criar um vínculo emocional bastante forte com seus cuidadores que gera consequências durante toda sua vida. A criança busca proximidade com o outro e quer se sentir segura quando ele está presente. Suas ideias e práticas subentendem que os pais ou cuidadores estejam emocionalmente disponíveis de forma a promover o desenvolvimento sócio-emocional da criança de maneira segura e amorosa e a evitar que a criança desenvolva o que se chama de apego inseguro, aquele que é baseado no abandono, no apegar-se porque não se teve. Em 1951, o psicólogo, psiquiatra e analista John Bowlby sugeriu que a privação materna durante a infância poderia levar ao desenvolvimento de adultos deprimidos ou hostis ou, ainda, com problemas para se relacionar de maneira saudável com outras pessoas. Isso na década de 50, quando muito pouco ainda se sabia sobre como o cérebro processava a depressão, a ansiedade e outros transtornos afetivos.Com o andar da carruagem, alguns pesquisadores, na década de 70, começaram a divulgar resultados de pesquisas comportamentais com primatas, mostrando que o rompimento da ligação entre mãe e filhote levava a comportamentos violentos e agressivos no primata adulto. Mas, afinal de contas, isso era apenas um estudo experimental e as pessoas tendem a repelir o que não é feito em humano, ainda que toda a nossa psicologia comportamental, neuropsiquiatria e neurobiologia tenha sido construída sobre observações comportamentais de animais e extrapolações biológicas.De acordo com a Attachment Parenting International (API), uma organização sem fins lucrativos que busca "orientar pais e cuidadores para uma educação segura, empática, rica em afeto e amor, visando criar laços familiares mais estreitos e, assim, um mundo mais compassivo", existem 8 princípios que promovem o apego saudável e seguro entre o cuidador e a criança, que são chamados de Princípios para uma Educação Intuitiva:
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário