terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Apropriando-se da sua maternidade

Segue abaixo mais um artigo da Psicóloga Renata Calife Fortes.
Boa Leitura!!


Ao descobrir-se grávida, a mulher passa a viver no limiar tênue entre o seu mundo físico e psíquico e todo aquele rótulo que se espera de uma boa grávida e boa mãe. A barriga, a princípio, já não a pertence. Quantos de nós ao encontrar uma grávida, mesmo sem termos intimidade, acariciamos a barriga com o ímpeto da curiosidade? Então, todos perguntam do bebe, da barriga, e, muitos de nós esquecemos que por traz daquela barriga há uma pessoa que tem nome, sobrenome , alegrias e angústias. Sem nos perguntar sobre quem, há sempre uma amiga, uma tia, uma avó, o próprio médico para falar sobre a verdade absoluta daquilo que pode e o que não pode. Papéis a serem percorridos, então são diversos: quem é o médico, qual a maternidade, o enxoval, exercício físico, alimentação, lembrancinha, nomes, padrinhos, enfeite de maternidade... e parto normal ou cesárea ( sim, elas tem o direito de escolher!!!); amamentar ou não amamentar ( sim, elas tem o direito de querer ou não!!!); enfim, quanto esperamos de uma linda mulher grávida. Parece que se todas estas etapas e papéis não forem cumpridos, cada um de nós tem que lidar com a nossa própria dificuldade de entender nosso modelo apenas como uma ilusão.
Diante deste padrão proposto, a mulher vivencia um momento de muita ambivalência emocional. Com medo de não atender àquela expectativa, a mulher experiencia a solidão da maternidade.
Cabe a profissionais que trabalham junto a gestantes e mães, acolher este momento. Não vejo que haja como propor o certo ou errado. Devemos abrir espaço para acolhimento e reflexão. Neste espaço, deve haver o encorajamento para que as mulheres possam falar de suas angústias, de seus medos e de seus desejos. Muitas vezes, o modelo dito como o ideal, enrijece qualquer possibilidade que a gestante ou mãe tem de decidir como quer viver aquele momento. Quando a questão da integridade física e da saúde da mãe e bebe estão contempladas, o direito a escolha de como será vivenciado este momento deve ser preservado. Vivenciar este momento e poder repensá-lo como uma reedição de seu nascimento, de seu papel de filha e de seu desejo de ser mãe é fundamental para a lucidez que a maternidade requer. Uma mãe com uma boa saúde mental é o mais importante para o bebe e, para isso ela precisa ser encorajada a apropriar-se das suas escolhas.
Renata Calife Fortes
Psicóloga – CRP 06/102404

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