sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Depressão materna e saúde mental infantil



Diversos estudos foram apresentados no IV Simpósio Internacional de Desenvolvimento da Primeira Infância. O estudo citado abaixo aborda como a depressão materna pode comprometer a saúde mental das crianças e também influencia negativamente as relações familiares. 
Um tema sério e que merece atenção!


Alicia Matijasevich Manitto é médica e professora doutora na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Ruth Perou é PhD em Psicologia Aplicada do Desenvolvimento no Center for Disease Control (CDC), nos EUA. Ambas trouxeram contribuições essenciais ao tema deste painel.
Alicia iniciou a exposição falando da relação da depressão materna com a saúde mental dos filhos, a partir de um estudo realizado em Pelotas, RS, com cerca de quatro mil recém-nascidos de famílias pobres.
Os bebês foram acompanhados e avaliados nas fases dos três meses, um, dois, quatro, seis e onze anos – esta última etapa está acontecendo agora. Os dados recolhidos baseiam-se nas informações fornecidas pela gestante/mãe e na análise dos recém-nascidos/bebês. É um questionário com mil perguntas,
que tratam de vários aspectos, como aleitamento, acidentes, morbidade, dentre outros. Alguns testes também são aplicados para avaliar QI (coeficiente de inteligência) e possíveis transtornos psiquiátricos.Embora o foco não seja a mãe, elas são bastante investigadas, especialmente no que diz respeito à saúde mental. Atualmente, 3.585 crianças são acompanhadas e alguns dados preocupam: há prevalência de problemas psiquiátricos em 13% delas. Mais de uma entre dez crianças apresentam algum transtorno, sendo mais frequente no gênero masculino.
Alicia também contou que os problemas psíquicos afetam mais as crianças de renda familiar muito baixa. Nas famílias com renda mensal igual ou menor a um salário mínimo, os distúrbios atingem 15% das crianças. Nos lares com renda maior a dez salários, o índice cai para 4%.
O que se sabe é que a depressão pós-parto em mães pobres é bastante frequente. Também já é consenso que a psicopatologia (doenças psicológicas) dos pais é fator de risco de transtornos mentais nos filhos. Por exemplo: 40% dos filhos de pais deprimidos apresentam um ou mais transtornos mentais.
Além disso, a depressão materna acaba interferindo negativamente nas relações familiares, causando tensões entre mães e pais, mães e filhos, pais e filhos, o que reflete nos cuidados com o bebê, levando-o a vivenciar dificuldades cognitivas no decorrer da infância.
O estudo em Pelotas quer revelar as consequências da depressão materna nos dois primeiros anos de vida, mostrar que ela atinge muito mais as mães de baixa renda e avaliar, por exemplo, quais os efeitos de transtorno de humor das mães em bebês com três meses.
A ideia é que sejam criadas estratégias de prevenção para combater esse tipo de depressão, um problema grave e comum entre as mães brasileiras, responsável por muitos danos à saúde mental dos filhos no médio e longo prazo.

Fonte: Boletim Bimestral FMCSV 

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