segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A Carreira Depois e a Partir da Maternidade



Quero compartilhar um artigo bastante interessante que foi escrito por uma colega, este aborda o tema da maternidade envolto pelas questões profissionais e que hoje  é a realidade para muitas mulheres.
Boa leitura!

A mulher executiva do mundo atual chegou aos cargos almejados por muito de seus talentos, saber planejar certamente é um deles. Provavelmente a executiva que hoje ocupa cargos gerenciais e de diretoria planejou estar ali. Depois da faculdade, veio a pós-graduação aqui ou no exterior, o curso de idiomas, a especialização, a primeira promoção, a segunda, a mudança de emprego tão almejado e, finalmente a maternidade, ah... a maternidade, esta fica planejada para depois. Por volta dos 35 anos, algumas dão espaço para a maternidade. Neste momento, há a primeira constatação de uma realidade diferente do mundo corporativo: planejamento aqui, muitas vezes não depende do nosso controle. A geração de executivas que iniciaram suas carreiras em final dos anos 80 teve a ilusão de que poder era querer. A realidade ia confirmando esta idéia, na medida em que tínhamos liberdade para escolher a faculdade, a especialização; ganhamos autonomia financeira, decidimos se seríamos solteiras, casada ou teríamos outro tipo de relacionamento afetivo, definimos prioridades, tomamos anticoncepcional e, finalmente decidimos ter filhos (algumas de nós; louváveis aquelas mulheres que pensam a maternidade e assumem, genuinamente, que este papel não é para todas). Diante do desafio de engravidar, algumas se deparam com um corpo autônomo que não controla ciclos nem emoções e, dada a demora do filho sonhado, a reprodução assistida apresentou novos caminhos.

Esta primeira constatação de não haver controle sobre tudo, insere a mulher no desconhecido campo da maternidade e coloca aquela profissional tão altiva e segura de si, em um estado de completo desamparo. Sentimentos ambivalentes fazem parte de toda gestação e nascimento de um filho. Elas ficam mais evidentes quando aquela nova mãe, também executiva, tem que conciliar emoções, as quais talvez elas desconhecessem e podem até ter certa dificuldade em nomear.

No meio desta maravilhosa confusão, é muito comum a mulher sentir necessidade de tomar decisões a respeito da sua vida profissional. Tomada por sentimentos de ansiedade, culpa, cansaço e uma enorme saudade de sua autonomia, a mulher acaba, muitas vezes, precipitando-se. Algumas, inclusive, já tinham planejado como seria a sua vida profissional após a maternidade, antes mesmo de ela existir.

Muitas delas decidem interromper a carreira, argumentam que não há nenhuma estrutura, recurso ou pessoa que possa preencher todas as necessidades da criança. Muitas vezes, o que se dá aqui, é que a maternidade é tão transformadora que ela mesma, já não se reconhece naquela executiva que era e, para dar conta daquele vazio provisório, a maternidade é uma deliciosa e exaustiva alternativa.

Outras mulheres por sua vez só têm a sensação de pertencimento quando inseridas no mundo executivo e, com medo de perder a si mesmo, dão a maternidade apenas o espaço recomendado pelos manuais ou pela legislação, não se permitindo novos paradigmas e reflexões. Atuam no automático. Voltar ao conhecido passa a ser urgente. Aquelas que já viveram a maternidade sabem que a princípio, o mundo corporativo é mais glamoroso do que fraldas, mamadas ininterruptas, babas, cólicas, entre outros afazeres maternos.

Será este o melhor momento para planejar alguma mudança? Não seria o momento de vivenciar um pouco esta crise transformadora sem a necessidade de grandes decisões? Ao voltar da licença-maternidade (se possível aproveitar os quatro ou seis meses, o bebe agradece!), é possível, e necessário vivenciar a ambivalência da maternidade e da vida profissional. Esperar que o corpo retorne ao seu ritmo anterior, esperar que os hormônios nos dêem mais serenidade ( quase um ano, dizem os especialista) e, esperar que voltemos a ter uma boa noite de sono. Estes aspectos influenciam significativamente a forma como conduzimos nossos caminhos. E depois disso, voltarmos a planejar, cientes de que a maternidade é uma função cheia de ambivalências, retomar a carreira profissional, cientes de que não somos mais a mesma executiva . Não há como passar pela experiência da maternidade impunemente. Conciliar aquela executiva que éramos com a mulher que passamos a ser não é possível, gerará uma grande lacuna. Mas perceber-se como uma pessoa em transformação e decidir que profissional irá ser a partir da maternidade e que mãe irá ser, a partir da sua profissão. Vale à pena!

(Renata Calife Fortes, Administradora de Empresas; atuou 15 anos no mercado corporativo e está concluindo o curso de Psicologia, 40 anos, mãe de 02 filhos).

Maria Elisangela

Um comentário:

  1. Parabens Renata pelo sensato texto e preciosa reflexao para maes que vivem esse momento ou que o pretendem viver! Estou nesse momento e compartilho sua opiniao! Eliana - SP.

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